O IBGE divulgou os
números do desemprego até março/2019. A
taxa de desocupação da força de trabalho no Brasil é de 12,7%. São 13,4 milhões
de desempregados, 1,2 milhão a mais, na comparação com o último trimestre de
2018.
Isso mostra que a
economia brasileira vem apresentando uma recuperação muito moderada. Mesmo com
a taxa básica de juros SELIC nas suas mínimas históricas, não tem sido
suficiente para promover o crescimento da economia.
E por que isso
ocorre? Muito fatores influem nesse cenário, mas talvez o principal é aquilo
que a ortodoxia econômica não permite e não admite mencionar: faltam estímulos.
Desde a reeleição da
Dilma, quando a economia já vinha demonstrando sinais de cansaço, que se falava
em freio nos gastos públicos, cortes no orçamento e ajuste fiscal, para
equilibrar as contas. O governo, já pressionado por esse cenário em declínio, e
com uma inflação provocada pelo tarifaço do início de 2014, começou a elevar os
juros, que estavam à época em 7,25%, para atingir o máximo de 14,25% em
julho/2015. Um tremendo choque de juros em uma economia que já estava
cambaleante. Não há atividade econômica e confiança dos agentes econômicos que
resistam a tamanho choque. O PIB naquele ano caiu -3,5% e sofreu igual tombo no
ano seguinte. O impacto foi tão forte que até hoje a roda teima em não querer
girar.
A inflação de fato
estava em escalada e atingiu mais de 10%, mas como mencionado, foi provocada
por um fato, o reajuste impactante de tarifas, principalmente de energia.
Claramente não se tratava de uma inflação de demanda que se combate com juros,
uma vez que a atividade econômica estava em desaceleração desde o ano anterior.
Somado ao choque de
juros, vieram medidas de contingenciamento de despesas do governo, que
contribuíram para a diminuição da demanda, com efeitos óbvios sobre o emprego.
No meio de tudo isso, a Operação Lava Jato atuando sobre as principais empresas
brasileiras de infraestrutura e construção civil, ceifando o que restava de
geração de postos de trabalho.
Como todos sabem,
tudo isso culminou no impeachment e no Governo Temer. E nada teve a ver com
crime de responsabilidade. É a economia, estúpido. Lembrando a famosa frase do
marqueteiro de Clinton, sobre o que realmente importa na eleição. No fim das
contas, as pessoas votam ou apoiam um candidato ou governante, pensando no
próprio umbigo (ou seria bolso?).
E por que estou
falando de todo esse histórico? Porque uma economia em frangalhos não se
recupera com mais ajustes. E é o que tentou fazer o Governo Temer e está agora
a tentar o governo atual. A reforma da previdência, se vier a passar como foi
proposta, provocará um empobrecimento geral da população, um arrocho no
orçamento de boa parte das famílias e não gerará empregos. As empresas não irão
contratar mais, pois há capacidade ociosa, que não será ocupada, pois não há
demanda. As empresas não irão crescer sua produção, pois não terão para quem
vender. E pelo lado do governo, a arrecadação cai e mais distante fica o
equilíbrio fiscal. É um círculo vicioso.
Os defensores do
ajuste fiscal acreditavam que contas saneadas fariam a economia crescer e nem
isso conseguiram. O orçamento continua apresentando déficit e a economia não
decola. Os causadores da queda artificial e provocada da economia não sabem
como fazer retomar a confiança, o investimento e o emprego. Cavaram o buraco,
entraram dentro e não pensaram na escada para sair.
Parece o paradoxo
Tostines. O investimento cresce porque há demanda, ou a demanda cresce porque
há investimentos. O que vem primeiro, o ovo ou a galinha? Que empresário
investirá e contratará, numa contração do consumo, da confiança do consumidor e
na diminuição da renda geral da população?
As grandes
economias, quando atravessaram a grande crise de 2008, despejaram dinheiro na
economia e nem assim foi suficiente por muito tempo. Sem alguma forma de
estímulo, como um empurrão para destravar a economia brasileira, não vejo como
sair dessa armadilha em que nos meteram.
E que estímulos
seriam esses? O primeiro e mais importante deles são os juros. Ainda há espaço
para queda da taxa SELIC, pois nos níveis atuais, mesmo sendo historicamente
baixa para os padrões brasileiros, ainda é muito alta para os padrões
internacionais. E a queda de juros tem que chegar na ponta, na diminuição do
spread. Temos uma SELIC a 6,5%, com juros mensais para o consumidor e para as
empresas em níveis muito mais altos. A prova disso são os lucros crescentes dos
bancos. Aumentaram a margem de lucro.
As famílias, as
empresas e o governo estão endividados. Então, pela via do crédito não há mais
espaço para expansão do endividamento. Mas juros mais baixos na ponta permitem
renegociação das dívidas, dando fôlego aos endividados, para diminuírem a
inadimplência e retomarem a capacidade de investir e consumir.
Outras formas de
estímulo pode ser a liberação para saques de fundos como o FGTS, o PIS e o uso
do FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador, no fomento e na criação de programas
de geração de emprego e incentivo à abertura de novas empresas. O Governo Temer
liberou o saque das contas inativas do FGTS e o efeito foi bem pequeno. Talvez
devessem liberar o saque às contas ativas, pois esse fundo rende muito pouco e
perde para a inflação e para a poupança. Na mão de empreendedores surtiria um
efeito benéfico para a economia.
Citei duas formas de
estímulo, mas devem existir muitas outras. O que faltam são ideias a um governo
sem projeto de país e apenas reativo e ideológico. Não será com esse que
construiremos a escada para sair do buraco.
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